07/07/2023 11:22 | Saúde

Entrevista com Waldez Cavalcante Bezerra: “O conhecimento produzido pela ciência pode solucionar problemas que afetam a humanidade”

Na semana em que se comemora o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico, celebrado em 8 de julho, o pesquisador Waldez Cavalcante Bezerra fala sobre a importância da pesquisa na Uncisal e os avanços no campo da Terapia Ocupacional


Ascom Uncisal


Danielle Cândido/ Uncisal

“Ciência é uma forma de conhecimento que se produz de modo sistemático, através de métodos, e que tem importância fundamental no desenvolvimento da sociedade”. É assim que o pesquisador Waldez Cavalcante Bezerra, professor da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal) define a Ciência hoje.

 

Egresso da Uncisal do curso de Terapia Ocupacional - Turma 2008, Waldez retorna à Uncisal em 2012 como professor do curso em que se formou, para ministrar disciplinas voltadas para o campo social da profissão e seus fundamentos. Na semana em que se comemora o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico, celebrado em 8 de julho, o professor defende que a função da ciência é buscar explicar a realidade e os fenômenos, sejam eles naturais ou sociais, e através do conhecimento produzido encontrar soluções para os inúmeros problemas que afetam a humanidade.


Confira a entrevista.



 

Como iniciou e como foi se construindo a sua relação com a pesquisa?

 

Meu interesse pela pesquisa se fez presente ainda na graduação, momento em que já percebi que queria seguir a carreira acadêmica. Naquele período, pude vivenciar a pesquisa através da construção do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), no qual investiguei o mercado de trabalho da Terapia Ocupacional em Maceió, pesquisa que estive envolvido durante os 2 anos finais do curso. Fiz especialização em Educação em Direitos Humanos e Diversidade pela Ufal; mestrado e doutorado em Serviço Social, também pela Ufal.

 

Ingressei no mestrado com um projeto resultante dos achados da pesquisa do TCC e fui estudar a relação histórica e contemporânea da Terapia Ocupacional com a sociedade capitalista, o Estado e as políticas públicas no Brasil. No doutorado, minhas preocupações se voltaram para o estudo da divisão social e técnica do trabalho no Sistema Único de Assistência Social (Suas), sobretudo analisando as competências e atribuições da Terapia Ocupacional, da Psicologia e do Serviço Social na composição das equipes de referência dos serviços do Suas.

 

Sobre a área de Pesquisa na Uncisal, como a observa atualmente?

 

Observo que temos avançado enquanto universidade na área da pesquisa, sendo um exemplo disso a ampliação da pós-graduação stricto sensu e os editais de incentivo à pesquisa publicados pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propep), além das parcerias para oferta de doutorados interinstitucionais que têm possibilitado a formação de novos pesquisadores no quadro docente. Tenho notado que, nos últimos anos, muitos docentes têm concluído o processo de doutoramento e isso tem refletido no aumento dos grupos de pesquisa na Uncisal. Contudo, algumas barreiras ainda se colocam para avançarmos ainda mais, como, por exemplo, o fato de cerca de 60% dos docentes ainda terem regime de trabalho de 20h, o que inviabiliza muitos de se envolverem com a pesquisa, área da docência que exige bastante tempo e dedicação. Sabemos que há perspectivas de aumento da carga horária desses docentes e, também, da implantação do regime de dedicação exclusiva, processos esses que sem dúvida impactarão positivamente para alavancar a pesquisa na Uncisal.

 

Qual o diferencial da pesquisa para o campo da Terapia Ocupacional?

 

O curso de Terapia Ocupacional em Alagoas é ofertado com exclusividade pela Uncisal desde 1997. A Terapia Ocupacional, apesar de estar alocada nas Ciências da Saúde na universidade, hoje é uma profissão que atua também nos campos da educação e social, e a pesquisa na profissão perpassa por esses diferentes campos, de modo que terapeutas ocupacionais produzem pesquisas de caráter mais amplo, sobre temáticas que interessam a outras áreas, como também pesquisas sobre questões de maior interesse da profissão. Sendo assim, é uma área que tem múltiplas possibilidades de atuação na pesquisa e isso é um diferencial. Do ponto de vista mais específico, terapeutas ocupacionais produzem pesquisas sobre a dimensão cotidiana da vida das pessoas, sobre o que elas fazem, como fazem e por que fazem e as questões que interferem nessas oportunidades de se envolver em atividades cotidianas e participar da vida em sociedade em condição de igualdade de direitos. Na minha área, por exemplo, a Terapia Ocupacional se volta para o desenvolvimento de pesquisa sobre as questões econômicas, culturais, políticas e sociais que limitam a participação social das pessoas e a partir disso criar estratégias de ação em Terapia Ocupacional para facilitar, através de metodologias e tecnologia sociais, a inclusão e participação social de diversos grupos populacionais.



 

Atualmente, qual pesquisa está desenvolvendo?

 

Atualmente estou coordenando o projeto intitulado “Panorama da inserção de terapeutas ocupacionais no Sistema Único de Assistência Social na região Nordeste e em Alagoas”. A pesquisa visa mapear onde estão inseridos os terapeutas ocupacionais que atuam na assistência social na região e em nosso estado, caracterizando essa inserção a partir de diferentes variáveis: sexo, idade, nível de formação, estado da região onde atua, município de Alagoas onde atua, tipo de vínculo empregatício, função exercida no serviço, carga horária semanal de trabalho, além da produção de uma série histórica da inserção entre os anos de 2011 e 2021. Cabe pontuar que a assistência social tem sido um setor de política pública importante do mercado de trabalho da profissão no Brasil, que tem se expandido na última década desde o reconhecimento, dado em 2011, pelo Conselho Nacional de Assistência Social de que a Terapia Ocupacional é uma das profissões que pode compor as equipes técnicas dos serviços do Suas ou a gestão da Política Nacional de Assistência Social. Os dados produzidos por essa pesquisa, que tem caráter exploratório, são importantes para o acompanhamento da dinâmica do mercado de trabalho da profissão na atualidade, para subsidiar futuras investigações mais aprofundadas sobre o trabalho de terapeutas ocupacionais no Suas e, ainda, para orientar a própria formação profissional, que precisa estar em constante revisão e em sintonia com a realidade do mercado de trabalho.

 

O que poderia nos falar sobre o Laboratório Metuia, que passou a contar com sede própria, na Uncisal, agora em 2023?

 

O Laboratório Metuia Uncisal se configura como um núcleo na Uncisal da “Rede Metuia – Terapia Ocupacional Social”. Atualmente, a Rede Metuia envolve docentes de Terapia Ocupacional, pesquisadores e estudantes (de graduação e/ou pós-graduação) e está presente em oito universidades públicas brasileiras (USP, UFSCar, Unifesp, UnB, UFES, UFPB, UFSM, Uncisal) e em duas instituições estrangeiras (o Instituto Superior de Ciências da Saúde de Moçambique, em Moçambique, e o Ville-Evrard Psychiatrie, na França). A Rede se organiza a partir de núcleos institucionais que sediam laboratórios de pesquisa vocacionados à produção de conhecimentos em torno dos interesses da Terapia Ocupacional Social, articulando as atividades de pesquisa com o ensino e a extensão. Recebi o convite para participar da Rede em 2019, quando criamos o Laboratório Metuia UFPB/Uncisal através de um acordo de cooperação técnica entre as duas universidades. Neste ano de 2023, com a conclusão do meu doutorado, a Rede entendeu que era o momento de eu coordenar e sediar um Laboratório Metuia na Uncisal. A existência desse laboratório na Uncisal não só qualifica a formação dos estudantes do curso, mas também dá maior visibilidade e projeção nacional e internacional ao curso de Terapia Ocupacional da Uncisal no meio acadêmico da área, tendo em vista a importância e a atuação histórica que a Rede Metuia possui na profissão desde 1998.

 

Ao que se dedica o grupo de pesquisa Mediações: Terapia Ocupacional, Fundamentos e Atuação Social?

 

O Laboratório Metuia Uncisal abriga o grupo de pesquisa “Mediações: Terapia Ocupacional, Fundamentos e Atuação Social”, cadastrado no CNPq, sob minha liderança. Além de mim, participam deste grupo estudantes de graduação da Uncisal, terapeutas ocupacionais e uma docente do curso de Terapia Ocupacional do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ). Assumindo perspectivas críticas, o grupo tem como objetivo a produção de conhecimentos em Terapia Ocupacional por meio da realização de pesquisas sobre a história e os fundamentos da profissão; sobre a questão social, políticas sociais e suas relações com a Terapia Ocupacional; e sobre a Terapia Ocupacional Social e o trabalho profissional no campo social. Como resultados, pretende-se contribuir com o desenvolvimento, fortalecimento e a disseminação de conhecimentos críticos que subsidiem a formação e o trabalho em Terapia Ocupacional, enfatizando a indissociabilidade entre as dimensões técnica, ética e política da profissão.

 

Qual recado gostaria de passar para os estudantes sobre a importância da pesquisa? 

 

A pesquisa é um eixo fundamental da formação universitária, sendo nele que o estudante desenvolve habilidades importantes para a vida profissional, como a busca e seleção de informações confiáveis, análise crítica de textos e dados, habilidades de escrita e comunicação, dentre outras. Na universidade, as principais formas de participação na pesquisa se dão via o programa de iniciação científica, cujos editais são lançados anualmente, mas também tem o TCC que é obrigatório na maioria dos cursos de graduação e é uma oportunidade de o estudante vivenciar a pesquisa. Caso o estudante tenha interesse na pesquisa, sugiro que ele busque se aproximar de professores ou grupos de pesquisa que atuam na área de interesse dele. Essa é uma boa forma de se iniciar na pesquisa.