06/07/2023 10:24 | Saúde

Entrevista com Kelly Cristina Lira de Andrade: “A pesquisa é um processo de dedicação, perseverança e curiosidade intelectual”

Professora e pesquisadora da Uncisal, a fonoaudióloga Kelly de Andrade fala sobre como os avanços da pesquisa podem contribuir para a Universidade, o mercado de trabalho e a população


Ascom Uncisal


Danielle Cândido/ Uncisal

“Ciência é o estudo e a descoberta de coisas sobre o mundo ao nosso redor”.  É assim, de maneira simples e prática, que a pesquisadora Kelly Cristina Lira de Andrade, professora da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), define Ciência, na semana em que se comemora o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico, celebrado em 8 de julho.

 

Egressa da Uncisal do curso de Fonoaudiologia - Turma 2003, Kelly de Andrade acredita que a pesquisa pode ser uma jornada fascinante que molda a carreira acadêmica e profissional. Professora da Uncisal desde 2016, ela observa que a pesquisa tem tido um papel de destaque na Uncisal e no curso de Fonoaudiologia nos últimos anos. Enquanto docente e pesquisadora, sente-se acolhida, respeitada e incentivada pela Universidade. Confira a entrevista.



Na semana em que se comemora o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico, celebrado em 8 de julho, como define a Ciência?


De uma maneira muito simples e prática. A Ciência é o estudo e a descoberta de coisas sobre o mundo ao nosso redor. É quando as pessoas observam e experimentam para entender como as coisas funcionam. Nós, pesquisadores, partimos de uma “pergunta de pesquisa”, iniciamos testes e analisamos os resultados com o objetivo de encontrar respostas. 


Em que momento a pesquisa começou a fazer parte da sua vida acadêmica e, atualmente, profissional?

Iniciei minha relação com a pesquisa no final do ano de 2003 (final do meu primeiro ano de graduação em Fonoaudiologia pela Uncisal). Neste período, elaborei meu primeiro projeto de pesquisa para a Iniciação Científica, orientado pelo professor-doutor Pedro Menezes, líder do Laboratório de Audição e Tecnologia (Latec). Continuei com pesquisas na iniciação científica até o final do curso e, posteriormente, fiz minha especialização na área de Audiologia (2007-2008). O mestrado em Saúde da Comunicação Humana na UFPE aconteceu entre os anos 2012 e 2014, o doutorado em Biotecnologia na Ufal entre 2014 e 2018 e o pós-doutorado também na Ufal entre 2020 e 2021. Atualmente, sou docente do curso de Fonoaudiologia da Uncisal; supervisora do Estágio Supervisionado Obrigatório; preceptora e docente da Residência em Audiologia; e docente e vice-coordenadora do Programa Associado de Pós-Graduação em Fonoaudiologia (PPgFon). Participou também do Latec, onde as pesquisas, com alunos de Graduação, de Iniciação Científica, da Residência em Audiologia ou do Mestrado, são realizadas.


Fonoaudiologia é um curso ofertado em Alagoas com exclusividade pela Uncisal. Qual o diferencial desta área em fazer pesquisa?

Eu acredito que “fazer pesquisa” é importante em toda e qualquer área. Na área da saúde, em especial, destacam-se algumas razões, como o avanço do conhecimento, o desenvolvimento de tratamentos e terapias, a prevenção e promoção da saúde e a melhoria da prática clínica. Além disso, serve como base para políticas de saúde, uma vez que as pesquisas fornecem evidências que embasam a formulação de políticas de saúde. Ela desempenha um papel essencial na melhoria da qualidade de vida das pessoas e no avanço da área da saúde como um todo. 


Qual pesquisa você está desenvolvendo atualmente?

Atualmente desenvolvo pesquisas com alunos de graduação, residência, mestrado e doutorado, sendo todas elas realizadas no Latec, em parceria com professores da Uncisal e de outras instituições (UFPE, UFPB, UFRN, UNESP- Câmpus de Marília e Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill - EUA). Todas as pesquisas que desenvolvo estão relacionadas à temática da Eletrofisiologia para a Audiologia. Basicamente, essa linha de pesquisa envolve o uso de exames eletrofisiológicos para avaliar a função do sistema auditivo e diagnosticar distúrbios auditivos com base nas atividades elétricas registradas em diferentes partes do sistema auditivo.


Para o trabalho do pesquisador, como observa o ambiente de Pesquisa na Uncisal hoje?

Percebo que a pesquisa tem tido papel de destaque na Uncisal nos últimos anos. Enquanto docente e pesquisadora, sinto-me acolhida, respeitada e incentivada pela minha Universidade. Existe na Uncisal um ambiente de pesquisa favorável que, por meio da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propep), atualmente liderada pela professora-doutora Mara Ribeiro, oferece programas de apoio à pesquisa, promove a colaboração interdisciplinar, estimula a divulgação e publicação de pesquisas e reconhece a excelência em pesquisa. Essas estratégias combinadas ajudam a criar um ambiente propício à pesquisa na universidade, estimulando professores e estudantes a se envolverem ativamente em projetos de pesquisa e contribuírem para o avanço do conhecimento em suas respectivas áreas.


Você foi a orientadora da primeira dissertação defendida pelo PPgFon, o programa de mestrado na área da Fonoaudiologia da Uncisal em associação com a UFPB e a UFRN, iniciado em 2021. Já é possível visualizar resultados do Programa?

A primeira dissertação defendida no PPgFon foi da aluna Vívian Maynart, egressa da Uncisal, a qual teve como título “Pós-mascaramento nos potenciais evocados auditivos corticais com estímulo de fala”. Foi um trabalho desenvolvido em parceria com outros alunos e pesquisadores, inclusive com o professor-doutor John Grose, da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill (EUA), a partir de uma cooperação internacional importante entre o Latec e a referida Universidade dos EUA. Os resultados, tanto para os alunos matriculados no programa quanto para a área de Fonoaudiologia como um todo, são muitos e vão desde a formação avançada e aprofundada em diversas áreas da Fonoaudiologia, ao desenvolvimento de pesquisas de alta qualidade e dos avanços clínicos com contribuições para a profissão.


Os resultados dessas pesquisas acadêmicas podem ser mensurados pela Universidade?

Sim, os resultados de pesquisa podem ter impactos mensuráveis. Na Universidade, por exemplo, por meio do reconhecimento acadêmico, uma vez que boas pesquisas podem levar a publicações em revistas científicas conceituadas, citações acadêmicas e aumento da reputação da Universidade como centro de pesquisa. Atração de financiamento, pois pesquisas de destaque podem atrair financiamento adicional de agências de fomento à pesquisa, doações e parcerias com a indústria. Além disso, a atração de talentos, já que pesquisas inovadoras e relevantes atraem estudantes talentosos, pesquisadores e professores para a universidade.



Como os avanços da pesquisa científica podem contribuir para o mercado de trabalho?

No mercado de trabalho, tem-se o avanço da carreira por meio do fortalecimento do currículo do pesquisador, proporcionando oportunidades de promoção, reconhecimento e melhoria das perspectivas de emprego. Os resultados da pesquisa podem ser mensurados também pela inovação e empreendedorismo, pois geram ideias e descobertas que têm potencial para impulsionar a área, levando à criação de startups, patentes e desenvolvimento de novas tecnologias. Além disso, as pesquisas colaboram com a indústria, uma vez que pesquisas aplicadas podem levar a parcerias com empresas e setores específicos, o que pode resultar em oportunidades de consultoria, contratos de pesquisa e transferência de tecnologia.


De que forma as pesquisas impactam para a população?  

Para a população, destaca-se a melhoria da saúde a partir dos avanços no diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças, o que contribui para melhorias na saúde e bem-estar da população. Impactam também no acesso a novas tecnologias, pois os resultados de pesquisa podem levar ao desenvolvimento de novas tecnologias, tornando-as acessíveis à população e melhorando a qualidade de vida. Por fim, a informação e conscientização da população com promoção da educação em saúde.


Que recado poderia passar para os estudantes sobre a importância da pesquisa na jornada acadêmica? 

A pesquisa é muito mais do que apenas uma exigência do currículo ou uma atividade para obter notas. Ela é uma oportunidade valiosa para expandir seus horizontes, desenvolver habilidades essenciais como o pensamento crítico e a resolução de problemas e contribuir para o avanço do conhecimento em suas áreas de estudo. Além disso, o envolvimento em pesquisa pode ajudar a construir uma rede de contatos e abrir portas para futuras oportunidades. O aluno poderá colaborar com outros pesquisadores, participar de conferências e eventos acadêmicos, e até mesmo obter bolsas de estudo, estágios e oportunidades de trabalho relacionadas à sua área de pesquisa. A pesquisa é um processo desafiador, mas recompensador. Ela exige dedicação, perseverança e curiosidade intelectual. Portanto, aproveite a oportunidade de se envolver em projetos de pesquisa durante seus estudos. Explore, descubra, questione e contribua para o conhecimento em sua área. A pesquisa pode ser uma jornada fascinante que moldará sua carreira acadêmica e além, como moldou a minha.


Quais seriam as formas de participar da pesquisa científica no ambiente universitário?

Há várias formas de participar de pesquisas na Universidade: procurar oportunidades de iniciação científica, pois muitas universidades, inclusive a Uncisal, oferecem programas de iniciação científica para estudantes de graduação; colaborar com professores e pesquisadores que estão conduzindo pesquisas nas áreas de seu interesse; participar de grupos de pesquisa ou laboratórios, como o Latec, por exemplo, que conta com alunos de graduação, residência, mestrado, doutorado e pós-doutorado; e candidatar-se a bolsas de pesquisa ou programas de estágio, os quais permitem que os alunos participem ativamente de projetos de pesquisa.